O ser
humano sempre viveu rodeado de animais adaptando-se a estes e vice versa,
consoante as suas necessidades. Actualmente e mais do que nunca, os cães
exercem uma função de extrema importância na sociedade, ajudando a colmatar e a
preencher lacunas que a própria sociedade criou, por vezes até com alguns
exageros, não tendo em consideração o bem estar, a etologia e a psicologia
animal.
É sabido que um animal de companhia não é um objecto descartável à
medida da nossa conveniência, nem tão pouco deve ser considerado como um
brinquedo para crianças ou um adorno e símbolo de riqueza e classe social para
um adulto. Ter um cão significa acima de tudo assumir uma responsabilidade,
desta forma, é importante pensar antes de optar em adquirir ou adoptar um cão,
é pois necessário saber se estamos dispostos a assumir essa responsabilidade
incondicionalmente.
O INÍCIO
O processo
de domesticação contribuí-o para que os cães se adaptassem aos homens em vários
sentidos. Deste modo, o cão adquiriu uma riqueza fônica superior à do lobo,
alimentando-se das mesmas coisas e mudando a sua morfologia de forma a acompanhá-lo
ao longo do tempo.
No
entanto neste relacionamento perfeito, a hierarquia é um dos mais importantes
factores que desde sempre deverá estar estabelecido nesta relação. Assim fica
claro para o cão que o humano é o dominante, tornando tal estabelecimento
possível devido à sua inteligência quantitativa. É assim dever do ser humano,
agindo como líder premiar boas condutas, castigar a desobediência, administrar
os recursos essenciais e não usar de brutalidade. Isso dá ao cão a proteção e a
certeza de que todas as suas necessidades serão satisfeitas, e acima de tudo,
uma boa relação de convivência.
Segundo
estudos realizados, a adaptação dos cães é devida ao facto de terem
desenvolvido a habilidade de aprendizagem por imitação. Habilidade esta que evoluíram e
continuam a utilizar para evitar a aprendizagem por tentativa e erro. A
pesquisa afirma ainda que esta é uma característica comum noutros grupos de animais,
destacando a diferença canina no facto de terem crescido e se desenvolvido no
meio humano ao longo dos anos. É inquestionável, portanto e pode-se afirmar com
segurança que a adaptação foi feita do cão ao homem e não em sentido contrário.
De forma
simples, o cão obtém dessa relação uma melhoria na sua atitude quanto à
sobrevivência, já que tem comida em abundância, evita a depredação e optimiza a
qualidade reprodutiva e também quanto à atitude social, pois integra-se numa
mais ampla. Já o homem é ainda mais favorecido, pois melhora a segurança de seu
grupo, as necessidades gregárias e por vezes as físicas e psicológicas.
Reconhecida como uma espécie domesticada, algumas raças de cães
possuem características especificas que o fazem destacar-se. Para desenvolver
mais estas particularidades, os cães normalmente são adestrados para obedecerem
ao seu dono e para reagir correctamente em determinadas situações. Essa
condição, criada pelo ser humano ao longo do seu convívio e interacção com o
cão, apenas é possível devido ao comportamento do cão em relação ao homem.
A SOCIEDADE HOJE
Como se referiu anteriormente os seres humanos e os cães
domesticados sempre tiveram uma estreita relação durante milhares de anos em
diferentes culturas. Esta ligação especial entre seres humanos sobreviveu à
transicção dos nossos estilos de vida desde o pré histórico aos moradores
urbanos. Os cães são uma parte importante na nossa sociedade, estudos*
demonstram que em Portugal cerca de 40% da população com mais de 18 anos
possuem um cão em casa, sendo que a posse desta espécie é superior nas regiões
do Sul (51%), Litoral Norte (44%), Interior Norte (44%), sendo em Lisboa onde a
percentagem é menor (29%).
Nas últimas décadas constantes mudanças sociais, culturais,
económicas, politicas e tecnológicas têm causado mudanças fundamentais nos
valores e atitudes na nossa sociedade. Algumas pesquisas mostram que como
resultado destas muitas mudanças assiste-se a uma perda de controlo, perda de
confiança e um crescente sentimento de isolamento por parte do ser humano,
proveniente de uma sociedade cada vez mais urbanizada onde também o contacto
com o cão torna-se cada vez mais limitado.
A companhia confiável e incondicional fornecidas pelo cão é
considerada como que uma terapêutica eficaz e estratégica no sentido de
melhorar a nossa qualidade de vida. Os cães podem ajudar a diminuir o stress, a
aliviar a solidão, a melhorar a saúde das pessoas. A simples presença de um cão
pode reduzir a pressão sanguínea, o que justifica o alto índice de
sobrevivência de donos de animais um ano depois de terem sido vitimas de ataque
cardíaco. Pesquisas comprovam a utilidade e na maioria os casos o sucesso, do
animal como co- terapêuta, no tratamento de doentes psíquicos, de crianças
hiperactivas ou agressivas, portadores de síndrome de Down, pacientes de
Alzheimer, pacientes com problemas neurológicos e deficientes físicos.
Na europa, 30% das terapias de recuperação utilizam animais. Em
San Francisco, nos Estados Unidos, existe um programa em que cães oferecem
conforto a pacientes com SIDA. A presença destes animais repercutiu na melhoria
do ambiente de trabalho nas enfermarias, beneficiando a equipa médica.
Eles melhoram os sentimentos de segurança quer em casa ou locais
públicos contribuindo de forma a quebrar barreiras na sociedade, ajudando as
pessoas a encontrar e fazer novos amigos.
Desta forma, a dupla capacidade do cão ser um animal de companhia
e ao mesmo tempo utilizar competências em auxílio ao seu dono, tornam-no único.
Muitos dos trabalhos efectuados pelos cães são de grande importância
humanitária, e alguns deles podem mesmo ser desenvolvidos por cães sem serem de
raça pura, como por exemplo a condução de gado e respectiva protecção (cães pastor),
policiam propriedades (cães de guarda), farejam e detectam substâncias ilícitas
(cães de pista), puxam trenós; expulsam malfeitores (cães de defesa), auxiliam
pessoas com mobilidade reduzida ou com deficiência (cães guia), procuram e
salvam pessoas perdidas (cães de busca) ou simplesmente acrescentam um brilho
na vida de centenas de milhares de pessoas espalhadas por todo o mundo.
Apesar de todos os benefícios comprovados, existe uma atitude
crescente de que os cães não são parte importante e legítima da nossa
sociedade. A consolidação urbana, as preocupações ambientais, o estilo de vida
em mudança e a legislação acabam por criar um ambiente em que a simples posse
de um cão encontra-se cada vez mais ameaçada, comprometida pela tendência de um
aumento da densidade habitacional. Sendo que os apartamentos e habitações com
quintais pequenos tendem a desencorajar pessoas a possuir cães. Nestes casos os
donos de cães necessitam de um acesso imediato a áreas públicas a uma curta
distância de casa para poderem gerir os seus cães com sucesso, é assim
importante que o desenvolvimento urbano evolua de forma inteligente de modo a
permitir a integração do cão na sociedade. Só em Portugal a percentagem de
lares com animais de estimação desceu quatro por cento desde Novembro de 2010*.
Programas de educação que incentivem uma profunda compreensão das
necessidades dos cães e ensinar também as responsabilidades de um comportamento
sensato em torno dos mesmos, pode ajudar os cães, respectivos donos e todos os outros numa
sociedade, pois as necessidades dos cães, dos seus donos e dos não
proprietários são todos legítimos. Desta forma estas necessidades devem ser
conduzidas e integradas na sociedade e no ambiente por forma a que pessoas e
cães vivam em harmonia.
Deste modo é importante que para uma
melhor e mais útil integração do cão na sociedade seja necessário saber
comunicar e saber entender o animal. A comunicação pressupõe compreensão, sendo
que nenhum cão compreenderá o ser humano se não passar por duas fases básicas
(ambas ligadas à 1ªinfância): o Imprinting, onde o cão começa a reconhecer como
congéneres a todos os animais, nomeadamente os humanos também, que interagem
com ele neste período e a Socialização, como que a escola de vida de um cão,
onde ele percebe que existem leis precisas, que existe hierarquia e que tem de obedecer
aos primeiros e que os segundos podem ser mandados.
Um cão que passou por uma boa fase
de imprinting e socialização possui as bases indispensáveis para comunicar com
o homem. Compete a este agora construir as sua regras, apoiadas na etologia e
psicologia canina.
* Fonte
Marktest
Em suma:
É de sempre que o cão se relaciona
com o homem, sendo que esta parceria tem sido constantemente moldada e alterada
ao longo dos tempos, pelo menos 15 mil anos. Nós próprios vivemos continuamente
moldando e alterando a natureza das nossas relações com os cães, procurando
sempre novas formas e tarefas para eles fazerem connosco. Através deste
convívio, observam-se momentos positivos e negativos. Na cultura, povoa a
realidade com heróis, companheiros de passatempo e de trabalho, os sonhos e
como úteis cobaias. Também na ficção desde sempre, o cão, figura em filmes,
desenhos animados, séries de televisão, livros e revistas. Isto significa que o
cão moderno, o seu mundo e os seus envolvimentos com os seres humanos são muito
diferentes hoje e assim continuarão em constante mudança, adquirindo sempre um
papel importante nesta nossa sociedade, também ela própria em constante
mudança.